Qual a importância do remanescente dental no uso de retentores intrarradiculares?

A reabilitação de dentes em tratamentos endodônticos tem sido um grande desafio para a odontologia restauradora. Clinicamente, a longevidade do tratamento com sistema pino-núcleo-coroa depende do comprimento e desenho do pino, do efeito férula, da cimentação e da quantidade de remanescente dental.

A ausência ou a quantidade insuficiente de remanescente dental para fornecer suporte e retenção para a futura restauração, bem como a necessidade de obter maior retenção e resistência do preparo protético, são os principais indicadores da necessidade de retentor intrarradicular.

Para falar mais a respeito deste tratamento e a importância do remanescente dental no uso de retentores, além de qual tipo de pino apresenta melhores resultados, entrevistamos o professor João Carlos Gomes.

Ele é o professor titular de dentística do Departamento de Odontologia da Universidade de Ponta Grossa nos cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado. Ficou interessado? Então continue lendo este post e confira a entrevista a seguir!

Qual é a principal finalidade do pino intrarradicular?

Os retentores são utilizados, principalmente, com a finalidade de auxiliar na retenção de restaurações diretas, sendo os mais indicados os pinos não-metálicos, e de restaurações indiretas, podendo utilizar-se dos pinos tanto metálicos quanto não-metálicos.

Ele é recomendado sempre após o término de um tratamento endodôntico?

“Nós utilizamos clinicamente os pinos não-metálicos — Fibras de Carbono e Fibras de Vidro desde 1994, inicialmente os pinos de fibra de carbono e, a partir de 1998, os pinos de fibra de vidro. Nossa filosofia para a utilização deles é baseada na avaliação clínica do remanescente dental”, segundo o professor João Carlos.

A recomendação é que, em dentes com tratamento endodôntico que tenham mais de 50% da coroa clínica comprometida por lesão, seja feita a cimentação de pinos não-metálicos e o preenchimento do remanescente dental com resina composta pela Técnica Adesiva.

Como avaliar se realmente há necessidade de utilizar um pino intrarradicular?

Deve-se avaliar, primeiramente, a quantidade de remanescente dental presente, sendo importante levar em conta também qual será a técnica de restauração, dado que há a direta e a indireta.

A técnica direta (com no mínimo 2 mm de remanescente dental) consiste na cimentação adesiva dos pinos de fibras de vidro, reconstrução do remanescente dental com resina composta, preparo protético e moldagem. Já na técnica indireta (com menos de 2 mm de remanescente dental), é necessário um preparo do conduto radicular para receber um pino metálico fundido, uma moldagem deste conduto e do remanescente dental e após, a cimentação deste núcleo no dente.

Tendo isso em mente, para avaliar a necessidade do pino deve-se considerar a quantidade de remanescente dental presente.

Qual é a vantagem do pino pré-fabricado em fibra de vidro quando comparado ao núcleo metálico fundido?

As principais vantagens dos pinos pré-fabricados em fibras de vidro (PFV) em comparação ao núcleo metálico fundido (NMF) são:

1. Resiliência do material dos pinos de fibras de vidro próxima a da estrutura dental, diminuindo muito a possibilidade de fratura do remanescente dental pós-cimentação do pino e reconstrução do dente;
2. Sua técnica é menos invasiva para o preparo da estrutura dental e para cimentar o pino de fibra de vidro, pois é necessário somente criar um eixo de inserção do pino no conduto e no remanescente dental, sem se preocupar com moldagem e cimentação futura do pino (núcleo metálico fundido);
3. A cimentação adesiva dos PFV e a possibilidade da reconstrução dental do remanescente dental pela técnica adesiva — sistema adesivo + resina composta — em uma única sessão clínica;
4. Os pinos de fibras de vidro são mais estéticos que os núcleos metálicos fundidos.

Qual é a diferença na fratura do elemento quando ocorre em um dente com pino de fibra de vidro e um núcleo metálico fundido?

De acordo com o prof. João Carlos, clinicamente, pode-se observar que quando acontecem fraturas em dentes que receberam um NMF, elas são mais longitudinais (longo eixo da coroa e raíz) e mais extensas.

Isso ocorre, possivelmente, pelos núcleos metálicos fundidos serem menos resilientes, ou seja, mais rígidos que os pinos de fibras de vidro. Isso promove uma maior dissipação de forças pontuais na estrutura dental remanescente.

Pode-se também justificar esta situação clínica em função de que, normalmente, para os NMF o preparo do conduto e do remanescente dental é mais invasivo quando comparado com os pinos de fibras de vidro.

“Nossa filosofia de trabalho nestes 27 anos que utilizamos os pinos pré-fabricados não metálicos é a utilização em casos clínicos em dentes que receberam tratamentos endodônticos e com perda igual ou superior a 50% do remanescente coronário”, ressalta o especialista.

Há casos em que não foi colocado o retentor para suporte da futura restauração e ocorreu o insucesso do tratamento?

Os principais casos de insucesso com uso dos PFV como retentores intrarradiculares, basicamente, foram em função de erro na indicação (ausência de 2mm de remanescente dental) ou falha no protocolo de cimentação.

Os retentores intrarradiculares são utilizados para aumentar a retenção do material restaurador, possibilitando a reabilitação restauradora e aumentando a longevidade do dente. Mas se não for seguido o critério para indicação de restaurações — nível de destruição coronária — o tratamento prosseguirá em rumo ao insucesso.

Poderia nos dar um depoimento sobre o pino de fibra de vidro da Angelus?

A Angelus sempre se preocupa com a qualidade de seus produtos colocados no mercado nacional e internacional para utilização dos cirurgiões dentistas.

“Acompanho a Angelus praticamente há três décadas, utilizando seus produtos e acompanhando os resultados em pesquisas e aplicações clínicas. Posso afirmar, com segurança, que os pinos de fibras de vidro da Angelus — Exacto, SPLENDOR – SAP e Reforpost Fibra de Vidro — são produtos de altíssima qualidade”, diz o professor João Carlos.

É válido ressaltar também que eles dão total segurança para suas indicações clinicas, porém, é de suma importância que eles sejam selecionados e aplicados com um protocolo correto.

Há algo mais que gostaria de acrescentar?

É importante destacar que, baseado em experiências clínicas (27 anos) e comprovado por meio de pesquisas científicas, a principal limitação para a indicação dos pinos de fibras de vidro é a falta de um remanescente dental coronário de pelo menos 2 mm.

Outra limitação são os canais muito amplos, que necessitam da confecção de pinos anatômicos diretos ou indiretos, segundo pesquisas realizadas na universidade de Ponta Grossa.

Com o surgimento dos Pinos Fresados da Angelus (Fiber Cad Post & Core – Chairside e Lab), os primeiros resultados das pesquisas foram muito promissores. “Iniciamos novas pesquisas com os Pinos de Fibra de Vidro Fresados para podermos definir um protocolo de indicação e aplicação, e estamos muito esperançosos com esta nova opção da Angelus”, explicita João Carlos.

A expectativa é que os Pinos Fresados de Fibra de Vidro possam ter um bom resultado clínico não somente para canais amplos, como também para dentes com remanescente dental coronário inferior a 2mm. Isso seria um grande avanço para a seleção e indicação dos pinos intrarradiculares.

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