Fraturei um instrumento dentro do canal, e agora?

Entenda quais as causas mais comuns que levam à fratura de instrumento dentro do canal e saiba como contornar essa situação.

Angelus

10 min. de leitura

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23 de dezembro de 2022

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De modo geral, os profissionais que já realizaram procedimentos endodônticos já experimentaram diversas emoções, variando desde a satisfação com o êxito no procedimento até a preocupação com um eventual acidente envolvendo fratura de um instrumento dentro do canal.

Para um melhor entendimento sobre como você deve conduzir esse quadro, entrevistamos Milena Perraro Martins (CRO-SC: 7447), cirurgiã-dentista, especialista, mestre e doutora em Endodontia. Ela também é especialista em implantodontia e saúde coletiva e da família. Além de atuar em consultório particular em Balneário Camboriú-SC, é professora em cursos de Pós-Graduação e possui curso online sobre o uso de magnificação em odontologia.

Continue a leitura para saber como proceder em casos como esse!

 

Quais são as causas mais comuns de fraturas de instrumentos dentro do canal?

Alguns exemplos de causas mais comuns são:

  • Reutilização de instrumentos endodônticos que deveriam ter sido descartados;
  • Uso de instrumentos endodônticos com cinemática incorreta;
  • Não trabalhar com os instrumentos com a ponta livre, exercendo força excessiva de pressão apical;
  • Desconhecimento da anatomia, utilizando instrumentos inadequados;
  • Acesso endodôntico insuficiente, fazendo com que a lima entre sob tensão nos canais.

 

Quais técnicas podem ser utilizadas para remover o instrumento?

O profissional deve sempre observar o tipo, tamanho e calibre do instrumento fraturado, bem como a localização do dente, tipo de canal (atrésico ou curvo) e nível da fratura do instrumento.

Para proceder com segurança, devemos, ainda, avaliar a morfologia da raiz, espessura da dentina circundante e a existência de concavidades na superfície da raiz. Logo, a análise desses fatores contribuirá para um prognóstico favorável.

A seguir, veja as técnicas que podem ser utilizadas.

 

Abertura de espaço com broca Gates-Glidden

Trata-se de abrir espaço com uma broca Gates-Glidden 2 ou 3 modificada (fazer um corte com disco na altura de seu maior diâmetro) produzindo uma plataforma até a localização do fragmento.

Em seguida, com um inserto ultrassônico liso e fino, circundar a lima fraturada em cerca de um terço de seu comprimento, desgastando a dentina em volta da lima e depois tocando-a em simultâneo. Essa vibração faz com que a lima saia das paredes do canal.

A literatura indica que esse desgaste de dentina em volta da lima pode ser feito em sentido anti-horário, visto que a grande maioria das limas são usinadas em sentido horário, favorecendo a remoção do fragmento da lima.

O ideal é que não seja usado água, já que isso atrapalha a visualização. Toda vez que você desejar visualizar o canal durante o ato de remoção de lima, sempre utilize cones de papel para secar.

 

Remoção com micro cânulas

Você também pode tentar remover a lima fraturada com micro cânulas. Para isso, escolha uma que entre de forma passiva dentro do canal e que deslize sobre o instrumento. Em seguida, o instrumento pode ser tratado mecanicamente na cânula ou ser colado nela, utilizando o cianoacrilato.

A remoção de instrumentos fraturados nunca deve ser efetuada com instrumentos de Ni-Ti rotatórios ou com o movimento reciprocante, já que também podem fraturar, complicando ainda mais o problema.

Quando for remover um fragmento de instrumento de dentes multirradiculares é importante vedar a entrada da embocadura dos outros canais, para quando o instrumento vir para a câmara pulpar, não cair nos demais, evitando um novo acidente.

Para isso, são indicadas pequenas bolinhas de esponja que podem ser inseridas na entrada dos outros canais.

 

O que deve ser feito quando a remoção não for possível?

Caso não seja possível criar um acesso retilíneo ao instrumento fraturado e visualizá-lo, a remoção via canal poderá ser inviável a sua remoção. Nesse caso, deve-se tentar passar ao lado do instrumento com limas flexíveis para depois englobá-lo na obturação. Lembrando que é importante avisar o paciente sobre o ocorrido.

 

Como proceder caso o instrumento ultrapasse o ápice radicular na tentativa de remoção?

A tentativa via canal sempre será a primeira escolha. O uso de insertos ultrassônicos pode ser uma opção, circundando e tocando na lima.

Caso não consiga remover e não houver dor, você pode explicar para o paciente que o acompanhamento do caso será necessário e deixar a lima no local.

Já em condições de sintomatologia dolorosa e manutenção do processo infeccioso, a cirurgia parendodôntica é indicada para a remoção.

 

Quais são os riscos em não realizar a remoção do instrumento?

Se não houver sinais clínicos ou sintomatologia dolorosa, não existe risco em deixar o instrumento fraturado. Do contrário, a infecção pode se perpetuar, pois as regiões não atingidas pelos procedimentos de limpeza podem levar a um prognóstico desfavorável.

 

Quais são os procedimentos para evitar a fratura do instrumento dentro do canal?

O ideal é fazer um pré-alargamento em terço cervical e médio, prévios à instrumentação no comprimento do dente. Além disso:

  • Trabalhe com limas K 10 ou 15, ou com as manuais similares para abrir caminho para as limas rotatórias;
  • Não trabalhe com a ponta do instrumento presa no canal, principalmente se foram limas usadas em motores com reciprocagem ou rotação;
  • Não faça pressão apical;
  • Nunca permaneça com um instrumento girando na mesma posição por mais de 3 segundos;
  • Não exceda 1 a 2 mm em profundidade quando você está avançando com uma lima rotatória;
  • Direcione o instrumento rotatório, e então ele deve entrar e sair acionado;
  • Não flambe um instrumento no interior do canal;
  • Faça movimentos de avanço e retrocesso no interior do canal (movimento de bicada – progressão e alívio);
  • Use a velocidade e torque indicados pelo fabricante, bem como o ângulo de reciprocagem, caso a lima utilizar este movimento.

Por fim, como o stress do metal não é perceptível, sempre controle o número de usos de sua lima ou utilize-a uma única vez.

De modo geral, os profissionais que já realizaram procedimentos endodônticos já experimentaram diversas emoções, variando desde a satisfação com o êxito no procedimento até a preocupação com um eventual acidente envolvendo fratura de um instrumento dentro do canal.


Quais são os procedimentos para evitar a fratura do instrumento dentro do canal?

O ideal é fazer um pré-alargamento em terço cervical e médio, prévios à instrumentação no comprimento do dente. Além disso:

  • Trabalhe com limas K 10 ou 15, ou com as manuais similares para abrir caminho para as limas rotatórias;
  • Não trabalhe com a ponta do instrumento presa no canal, principalmente se foram limas usadas em motores com reciprocagem ou rotação;
  • Não faça pressão apical;
  • Nunca permaneça com um instrumento girando na mesma posição por mais de 3 segundos;
  • Não exceda 1 a 2 mm em profundidade quando você está avançando com uma lima rotatória;
  • Direcione o instrumento rotatório, e então ele deve entrar e sair acionado;
  • Não flambe um instrumento no interior do canal;
  • Faça movimentos de avanço e retrocesso no interior do canal (movimento de bicada – progressão e alívio);
  • Use a velocidade e torque indicados pelo fabricante, bem como o ângulo de reciprocagem, caso a lima utilizar este movimento.

Por fim, como o stress do metal não é perceptível, sempre controle o número de usos de sua lima ou utilize-a uma única vez.


Em caso de perfuração, como tratá-la corretamente?

Primeiramente, você deve observar se a perfuração é antiga ou recente. O prognóstico do tratamento será melhor em ocorrências recentes. Em outros casos, poderá apresentar maior contaminação.

Localização e tamanho da perfuração

O sucesso do tratamento também está ligado à localização e tamanho. O ideal é primeiro conter o sangramento do local e regularizar as bordas da região.

Observar também a localização desta perfuração, pois quando localizadas em região de terços cervical e região de furca e houver alguma contaminação com saliva, o ideal é o uso de materiais restauradores após controle de sangramento e umidade. Isso porque o uso de materiais biocerâmicos em locais que apresentam contaminação com saliva pode levar ao “wash out” ou “lavagem do material”, favorecendo sua soltura, e, por consequência, impedindo a permanência do material na região.

Limpeza e descontaminação

A limpeza e descontaminação da área a ser tratada é fundamental. Ambientes ácidos podem debilitar a microestrutura do material e impactar na sua hidratação.

Por isso, é importante garantir a biossegurança, mantendo um ambiente desinfectado e limpo, além da correta esterilização dos materiais.

Controle do sangramento

O controle do sangramento pode ser feito com o uso do pó de hidróxido de cálcio ou até o uso do ácido tricloroacético 90% manipulado em farmácia, porém este último deve ser usado com muito cuidado.

Regularização das bordas

A regularização das bordas da perfuração pode ser feita com brocas de baixa rotação ou insertos de ultrassom diamantados.

Para prevenir o extravasamento do material biocerâmico, você pode fazer o uso do hidróxido de cálcio PA, Sulfato de Cálcio ou de Membrana de Colágeno, antes de colocá-lo.

Colocação dos biocerâmicos

A colocação dos biocerâmicos após controle da umidade pode ser feita com dispositivos apropriados, como Aplicadores de MTA (como o da Angelus), espátula e uso de compactadores para posicionar o material no local.

O uso correto dos biocerâmicos requer última irrigação da região com soro fisiológico ou água destilada antes de sua aplicação.

Siga as recomendações do fabricante com relação à manipulação do material. Misturar mais líquido no pó pode prejudicar a mistura.

 

Como os biocerâmicos Angelus auxiliam nesse tratamento?

Os biocerâmicos são materiais de múltiplas utilidades, pois são antimicrobianos, biocompatíveis e bioativos. Uma das suas vantagens é a possibilidade de se adequarem às perfurações dentárias, propiciando um excelente selamento marginal.

A escolha do biocerâmico dependerá da quantidade necessária e do tempo de presa inicial do material. Esse é um material estável, que apresenta uma leve expansão de presa após o endurecimento. Após a aplicação, se torna rígido e insolúvel, proporcionando uma excelente vedação.

 

Como vimos, existem práticas preventivas que contribuem para evitar a fratura de instrumentos dentro do canal. Contudo, quando ela ocorre, pode ser tratada por meio de diferentes técnicas. Cabe ao profissional decidir pela mais apropriada para cada situação.

Gostou deste conteúdo? Para saber mais sobre a aplicação do BIO-C® REPAIR acesse o Perfil Técnico do produto:

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