Uso do cimento biocerâmico BIO-C Repair em retratamento endodôntico em dentes com ápice aberto: relato de caso
BIO-C® REPAIR | Angelus
Lupicínio Moraes dos Santos
Prof. Clauber Romagnoli
Prof. Douglas G. N. Cortez
Prof. Renato Interliche
Dentes que necessitam de retratamento endodôntico são sempre um desafio ao clínico. Porém, dentes com indicação para retratamento e possuem rizogênese incompleta são ainda mais desafiadores.
A manutenção da obturação nos limites desejados é mais difícil de se obter, dado que dentes nesta situação não possuem a constrição apical que funcionaria como uma barreira natural de contenção do material obturador dos canais radiculares.
Existem algumas alternativas para estas situações que podem prevenir a sobreextensão da obturação endodôntica, como por exemplo, a técnica de apicificação, onde são realizadas trocas de medicação intracanal – hidróxido de cálcio – até a formação de uma barreira apical cementária que funcionará como contenção do material obturador (Pereira et al., 2021).
Uma outra opção seria a confecção de um tampão apical com materiais adequados para este fim. O MTA tem sido exemplificado como material de escolha para esta situação (Steinig, Regan, Gutmann, 2003).
Por fim, a terapia endodôntica regeneradora também surge como uma possibilidade de abordagem para estes casos. Nela, não existe a necessidade de conter o material dentro do canal, pois o coágulo sanguíneo será o material que preencherá o conduto radicular (Banchs e Trope, 2004).
Um material que pode ser utilizado para esta finalidade é o Bio C Repair (Angelus, Londrina, Brasil). Este cimento biocerâmico é indicado para várias situações clínicas pelas suas características de biocompatibilidade, consistência firme, ser pronto para o uso e de fácil manipulação. É apresentado comercialmente em seringas que permitem uma rápida e simples utilização.
O objetivo desta descrição de caso é relatar um caso clínico onde o Bio C Repair foi utilizado não só como tampão apical, mas também como material de obturação do canal radicular em um retratamento endodôntico de um elemento com lesão apical e ápice aberto.
Descrição do caso clínico
O paciente L.H.G, 29 anos de idade, apresentou-se no consultório para avaliação e tratamento de escurecimento dental do elemento 11 (Incisivo central superior direito).
O dente em questão apresentava leve alteração cromática e o paciente relatou um traumatismo na região, porém sem precisão de há quanto tempo isso havia ocorrido.
Relatou ainda que este dente já havia sido tratado endodônticamente na época do acidente.
No momento da avaliação, não apresentava dor, fístula ou qualquer outro sinal.
Através do exame radiográfico, notou-se uma obturação insuficiente e imagem sugestiva de uma lesão periapical (Figura 1).
Todos os esclarecimentos sobre a situação foram feitos para o paciente e o plano de tratamento sugerido foi o retratamento endodôntico não cirúrgico e clareamento dental.
Na sessão seguinte, foi realizada anestesia, abertura coronária de maneira convencional e isolamento absoluto.
O material obturador foi removido com o auxílio de limas manuais, brocas de Gates-Glidden e limas rotatórias até se verificar radiograficamente a completa limpeza do canal radicular (Figura 2).
Durante esta etapa, foi utilizado o hipoclorito de sódio (2,5%) como solução irrigante entre cada troca de instrumento em um volume de, no mínimo, 2 ml em cada aplicação.
A odontometria foi feita radiograficamente (Figura 3).
Após o canal completamente desobturado, foi realizada a irrigação ultrassônica passiva (PUI) em 3 ciclos de 20 segundos para o hipoclorito de sódio e também para o EDTA a 17%, objetivando-se a completa remoção da smear layer. Para isso, o inserto Irrisonic (Helse ultrasonic, Ribeirão Preto, Brasil) foi utilizado em uma unidade ultrassônica.
Terminada esta etapa, com o mesmo inserto de ultrassom, foi feita a irrigação ultrassônica contínua (CUI) para a retirada das soluções irrigantes remanescentes com soro fisiológico que estava previamente na unidade ultrassônica.
Após removido o excesso de soro fisiológico com aspiração e um cone de papel, uma pequena quantidade de Bio C Repair foi inserido no canal para a confecção do tampão apical. Este material foi acomodado na região com um calcador endodôntico de grande diâmetro, visto que o diâmetro do canal se apresentava bastante amplo.
Com o tampão apical concluído, notou-se que o comprimento do canal que ainda necessitava ser obturado era pequeno, o que nos levou a mudar a estratégia de obturação do canal. Continuamos a obturação completa do canal com incrementos do próprio Bio C Repair até o terço cervical, o que foi confirmado radiograficamente no transoperatório (Figura 4).
A cavidade pulpar foi limpa e selada com resina composta. Nenhuma medicação foi administrada, exceto analgésicos caso fosse necessário.
O paciente apresentou-se 30 dias após o término do procedimento para controle e não relatou dor, inchaço ou desconforto (Figura 5).
A proservação foi realizada 2 anos e meio após (Figura 6) onde podemos observar uma situação periapical bastante favorável. Não foi detectada fístula e o paciente não relatou nenhuma intercorrência neste período.
Discussão
Dois pontos importantes são dificuldades para o tratamento ou retratamento endodôntico de dentes com ápice aberto: a descontaminação do canal e a obturação.
A redução da microbiota intracanal será feita nestes casos, principalmente, pela ação da solução irrigadora. Como dentes com ápice incompleto normalmente apresentam paredes dentinárias finas, não é indicada uma instrumentação vigorosa, deixando a responsabilidade da eliminação do maior número de bactérias para as soluções irrigantes e medicação intracanal.
A obturação apresenta a dificuldade de conter o material preenchedor dos canais radiculares dentro do próprio canal, visto que não há uma constrição apical que impeça fisicamente deste material adentrar no periápice.
Por este último motivo, técnicas são usadas para evitar a sobreextensão do material obturador, como a técnica de apicificação, tampão apical e revascularização.
Neste caso, não foi escolhida a técnica de revascularização pela possibilidade futura de instalação de prótese com consequente instalação de pinos intrarradiculares para a retenção da prótese.
Sobre a técnica de apicificação, dado o seu longo tempo para realização, também foi descartada esta possibilidade (Zenkner, Pagliarin, Barletta, 2009).
Desta forma, buscamos uma alternativa que fosse rápida e nos proporcionasse a recuperação dos tecidos periapicais e a instalação de um pino e prótese futuramente, caso fosse necessário (Niedermaier, Guerisoli, 2013).
A técnica do tampão apical foi realizada e, dada a medida pequena da raiz, não foi obturado o canal com guta percha e cimento convencionais. Após a finalização do tampão apical, uma pequena extensão de raiz ficou sem obturação e isso nos fez optar por preencher todo o restante do canal com o próprio Bio C Repair. Este cimento, como tem uma ótima capacidade de selamento, também funcionou como tampão cervical para conter o material de clareamento dental interno, performando duas funções: tampão apical e cervical.
Na consulta de proservação de 2 anos e meio, percebemos uma ótima condição apical e periodontal. Pode-se constatar que a situação periapical estava em normalidade e o paciente não relatou nenhuma dor ou qualquer outra intercorrência, como dor ou inchaço.
Assim, vemos que este cimento reparador biocerâmico foi suficiente para a resolução da fase de obturação do canal radicular em um dente onde o ápice estava aberto, evitando a extrusão do material além do ápice e dando condições de recuperação dos tecidos periapicais.
Conclusão
Podemos concluir, através do caso clínico realizado, que o material BIO-C Repair é uma alternativa bastante viável para a obturação de dentes com ápice aberto, seja para a confecção do tampão apical ou para a obturação do canal em casos de raízes curtas.
Referências Bibliográficas
Banchs F, Trope M. Revascularization of immature permanent teeth with apical periodontitis: new treatment protocol? J Endod, V. 30, p. 196–200, 2004.
NIEDERMAIER, Katherynn; GUERISOLI, Danilo. Apicificação com plug apical de MTA em dente traumatizado. Revista Brasileira de Odontologia. v.70, n.2, p.213-215. 2013.
PEREIRA, Helen; NASCIMENTO, Joyce; LOBATO, Carina; BRASIL, Mariana; GOES, Silas; MEIRA, Gabriela; LOPES, Luana; SILVA, André. Tratamento endodôntico em dente com rizogênese incompleta com a utilização do hidróxido de cálcio: Relato de caso. Research, Society and Development. v.10, n.16, p.1-9. 2021
Steinig TH, Regan JD, Gutmann JL. The use and predictable placement of mineral trioxide aggregate in one-visit apexification cases. Australian Endodontic Journal. V. 29, p. 34–42, 2003
WHITHERSPOON, David. Vital Pulp therapy with new materials: New directions and treatment perspectives – permanente teeth. Journal of endodontics. v.34, n.7, p. 25-28. 2008.
ZENKNER, Clacir; PAGLIARIN, Claudia; BARLETTA, Fernando. Apicificação de incisivos centrais superiores usando hidróxido de cálcio: Relato. Revista Saúde (Santa Maria). v.35, n.1, p.16-20. 2009.
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2 comentários
18/10/2024
Bom dia!
Estou escrevendo meu TCC da pós em endodontia,relato de caso onde foi utilizado o Bio C Repair para obturação de todo o canal ,por ter raiz extremamente curta.Seria possível me enviar as referências bibliográficas utizadas neste relato de caso?Quero incluir algumas citações no meu trabalho.
Desde já agradeço.
21/10/2024
Bom dia, Karine! Acabamos de atualizar o registro com as informações de referências bibliográficas. Também enviaremos no seu e-mail. Desejamos muito sucesso com o TCC!