Selamento de perfuração radicular com MTA Repair HP: relato de caso - Angelus Odontologia

Selamento de perfuração radicular com MTA Repair HP: relato de caso

MTA Repair HP | Angelus

Luiz Felipe Nunes Moreira*

Juliana Alves de Aguiar**

 

*Mestre e Especialista em Endodontia – CPO São Leopoldo Mandic – Campinas/SP.
Especialista em Implantodontia – FUNORTE/ SOEBRAS – Governador Valadares/MG.
Professor de Endodontia – Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) Governador Valadares/MG.
** Graduada em Odontologia Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) Governador Valadares/MG.

Introdução

As perfurações radiculares  são comunicações que ligam o Sistema de Canais Radiculares (SCR) aos tecidos de suporte dentário, podem ocorrer a partir de reabsorções, cárie ou eventos iatrogênicos durante o tratamento endodôntico e reabilitações protéticas. Esta ocorrência, tem sido relatada em 47% durante o tratamento endodôntico e 53% pós tratamento endodôntico, durante as etapas de preparo e instalação de retentores intrarradiculares, sendo que  os dentes superiores (74,5%) foram mais afetados que os dentes inferiores (25,5%) (Siew et al., 2015). As perfurações iatrogênicas têm melhor prognóstico quando tratadas imediatamente. O sucesso do tratamento está diretamente relacionado à descontaminação da área perfurada assim como selamento completo da região.

Na busca de um material que apresentasse as melhores propriedades físicas, químicas e biológicas, vários estudos foram realizados com diversos materiais, tais como: amálgama, cavit, ionômero, óxido de zinco e eugenol, hidróxido de cálcio e Mineral Trióxido Agregado (MTA). No entanto, o MTA foi o material que apresentou os melhores resultados comparado com os outros materiais, quando utilizados como selamento de perfurações radiculares (Nakata et al., 1998).

O MTA tem sido indicado em diversas situações clínicas por apresentar boas propriedades como: melhor selamento, biocompatibilidade, adaptação marginal, insolubilidade e resistência, podendo ser utilizado no selamento de perfurações radiculares. Todavia,  também apresenta algumas desvantagens devido à sua consistência e manipulação e, o  posicionamento no local de reparo pode apresentar-se como desafiador (Pereira et al., 2018).

Recentemente, o MTA REPAIR HP (Angelus) foi introduzido no mercado para melhorar suas particularidades. Sua nova fórmula mantém a original, mas é introduzido tungstato de cálcio, de diferente radiopacidade, ao invés do óxido de bismuto, garantindo ausência de descoloração dental. Outra diferença está na substituição da água destilada pela polivinilpirrolidona, um líquido que contém água e plastificante orgânico, que dá ao produto uma alta plasticidade.

Apesar de não conter hidróxido de cálcio, após o endurecimento do MTA é formado o óxido de cálcio, que pode reagir com os fluidos teciduais para produzir do Ca(OH)2. Após o contato do MTA com o tecido periodontal, o óxido de cálcio reage com os fluidos teciduais e ocorre a formação do Ca(OH)2. A partir dessa fase, os dois materiais agem da mesma forma, com a reação do Ca(OH)2 com o CO2 da corrente sanguínea, formando carbonato de cálcio e a formação de  uma matriz extracelular rica em fibronectina  que é secretada em íntimo contato com esses cristais, formando o passo inicial da formação de tecido duro (Torabinejad et al., 1995).

O objetivo deste trabalho é  apresentar um caso clínico demonstrando, selamento de perfuração radicular utilizando o material MTA REPAIR  HP (Angelus), no intuito de informar aos cirurgiões-dentistas a aplicabilidade clínica desse material.

 

Relato de caso

Paciente A. A. O. 30 anos, gênero feminino, raça parda, procurou o consultório de Endodontia com queixa de desconforto à mastigação na região de molares superiores esquerdos. Ao exame clínico, a mucosa jugal apresentava aspecto de normalidade, sem alteração de volume e coloração. O elemento dentário em questão, não apresentava mobilidade e era portador de uma coroa metalocerâmica bem adaptada. Aos testes de percussão e palpação o mesmo respondeu positivo e negativamente, respectivamente. Ao exame radiográfico não foi observada nenhuma alteração no periodonto de sustentação, contudo, o dente apresentava um núcleo metálico fundido “aparentemente” na raiz mésio vestibular, e presença de espaço para retentor intrarradicular preparado na raiz palatina conforme figura 1, sendo indicada reintervenção endodôntica.

 

Figura 1 – Radiografia de diagnóstico constatando presença de núcleo metálico fundido instalado fora do canal palatino previamente preparado.

Após os exames clínico e por imagem, procedeu-se a remoção da coroa metalocerâmica e remoção do núcleo metálico fundido utilizando a técnica SISU, com dois insertos 5AE Gnatus ligados a dois aparelhos ultrassons Gnatus. Ao remover o NMF foi possível constatar uma perfuração ao lado do canal palatino onde o pino foi instalado conforme figura 2. Foi realizado o isolamento absoluto, limpeza da câmara pulpar e reconstrução da porção coronária com resina composta fotopolimerizavel (Z250) e, posteriormente, foi realizada a remoção do teto da câmara pulpar remanescente e debridamento da perfuração, com inserto E6D Helse Ultrassonic associado a clorexidina gel a 2% e soro fisiológico como soluções irrigadoras (Figura 3).

Figura 2. Vista clínica inicial constatando presença de perfuração radicular mesialmente ao canal palatino.
Figura 3. Remoção do teto da câmara pulpar remanescente e debridamento da perfuração com inserto E6D Helse Ultrassonic.

Após o debridamento da perfuração, foi colocado CaOH2 sobre a perfuração e deixado por uma semana. Após sete dias, o mesmo foi removido e substituído pelo MTA REPAIR HP (Angelus) (figura 4). Em seguida, a região da perfuração foi restaurada com uma resina de carga P60 (3M) fotopolimerizavel (Figura 5).

Figura 4. MTA REPAIR HP inserido na região de perfuração na raiz palatina.
Figura 5. Blindagem e restauração da perfuração com uma resina de carga P60 (3M) fotopolimerizavel.

O Retratamento endodôntico foi realizado associando insertos ultrassônicos como o Clear Sonic e Flat Sonic (Helse Ultrassonics) e Instrumentos Reciprocantes Wave One Gold medium 35.06 (Dentsply Sirona, Brasil). Após remoção do material obturador pregresso, foi realizada a odontometria com localizador eletrônico foraminal (Novapex), e em seguida a modelagem com sistema wave one gold. Posteriormente, realizou-se a prova do cone, com os cones do respectivo fabricante, confirmando o comprimento ideal dos cones (Figura 6).Logo após foi aplicado o EDTA a 17% associado a PUI, e os canais foram lavados com soro fisiológico e secos com pontas de papel absorventes (Dentsply).

Figura 6 – Radiografia de prova do cone

Os canais foram obturados utilizando o AH Plus (Dentsply Sirona, Brasil) como cimento obturador e, em seguida, no canal palatino, foi deixado um espaço para retentor intrarradicular (Figura 7 e 8).

Figura 7. Radiografia final após obturação dos canais.
Figura 8A. Vista sob microscopia 16x dos canais obturados e preparo para retentor intrarradicular no canal palatino.
Figura 8B. Canais Mv e Dv. B. Canal palatino com espaço para retentor intrarradicular

No acompanhamento clínico e radiográfico após 12 meses, o dente  se apresentava com ausência de sintomatologia clínica, e imagem sugestiva de reparação da lâmina dura na área de perfuração (Figura 9).

Figura 9

Discussão

As perfurações radiculares podem ser reparadas com elevads índices de sucesso com o MTA Repair HP (Siew et al., 2015). Neste relato de caso, a precisa identificação da localização de uma perfuração com magnificação e iluminação, ajuda substancialmente a melhorar a previsibilidade do prognóstico destes dentes.

Segundo Duda & Losso (2005), a literatura mostra que vários trabalhos foram realizados com o objetivo de avaliar as características do MTA, tais como biocompatibilidade, adaptação marginal, capacidade de selamento, tempo de presa, radiopacidade, estabilidade dimensional, força de compressão, adesão às paredes dentinárias, capacidade antimicrobiana, capacidade de estimular a formação de barreira de tecido mineralizado, mostrando resultados bastante favoráveis que ampliam o seu uso clínico

A utilização de um MTA REPAIR HP tem demonstrado resultados clínicos positivos, considerando o período curto de acompanhamento. Do ponto de vista clínico, o MTA original tem desvantagens devido à sua consistência, manipulação e posicionamento no local de reparo. Em contrapartida, o MTA REPAIR HP possui um melhor manuseio e inserção, não mancha a estrutura dental, induz a biomineralização, impede o crescimento bacteriano e otimiza o tempo e a utilização.

A relevância científica deste caso em questão é demostrar que é possível obter sucesso no tratamento das perfurações radiculares com uso de protocolos e tratamentos com base científica. O protocolo clínico utilizado no caso em questão, utilizando o MTA REPAIR HP, foi capaz de reparar a perfuração radicular com sucesso.

 

Referências

Duda JG, Losso EM. O uso do agregado de trióxido mineral (MTA) em odontopediatria. Arquivos em Odontologia. 2005; 41(1): 93-102.

Nakata TT, Bae KS, Baumgartner JC. Perforation repair comparing mineral trioxide aggregate and amalgam using anaerobic bacterial leakage model. J Endod. 1998; 24(3): 184-186.

Pereira ALT, Silva BMC, Valadares DLB, Aredes HC, Pinheiro KS, Moreira LFN. Utilização do mineral trioxide agregado (MTA) no tratamento das perfurações radiculares. Revista FACS. 2018; 18(21): 112-19.

Siew KL, Lee AHC, Cheung GSP. Treatment outcome of repaired root perforation: A systematic review and meta-analysis. Journal of Endodontics. 2015; 41(11):1795-804.

Torabinejad M, Hong CU, McDonald F, Pitt Ford TR. Physical and chemical properties of a new root-end filling material. J Endod. 1995; 21(7): 349-353.

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