Apicificação dentária utilizando materiais biocerâmicos - Angelus Odontologia

Apicificação dentária utilizando materiais biocerâmicos

BIO-C Temp | Angelus

Maria Antonieta Veloso Carvalho de Oliveira1, Nayara Rodrigues Nascimento Oliveira2, Jessica Monteiro Mendes3, Thallys Rodrigues Félix4, Luís Henrique Araújo Raposo5, Paulo Vinícius Soares6

1Professora Doutora da Área de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) – MG.

2Especialista em Endodontia, mestranda em Clínica Odontológica Integrada na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU).

³Cirurgiã-Dentista, Uberlândia – MG.

4Graduando da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) – MG.

5Professor Doutor da Área de Oclusão e Prótese Fixa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) – MG.

6Professor Doutor da Área de Dentística e Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) – MG.

Introdução

Dentes permanentes que ainda estão em processo de rizogênese e necessitam de intervenção endodôntica são um desafio terapêutico: apresentam raízes curtas, canal radicular amplo, paredes finas e ápice aberto, sendo assim sujeito à fratura durante o procedimento ou extrusão de material (Guerrero et al., 2018).

Tradicionalmente, o tratamento destes casos é feito a partir de múltiplas trocas de medicação (hidróxido de cálcio), com intuito de induzir a formação de tecido na porção apical, diminuindo seu diâmetro e assim possibilitando uma obturação mais segura. Porém, buscando otimizar o tempo clínico, promover melhor vedamento apical e oferecer comodidade ao paciente, a confecção de um plug apical, na maioria dos casos utilizando material trióxido agregado (MTA), começou a ser empregado em casos de apicificação (Agrafioti et al., 2017).

Os materiais biocerâmicos estão presentes cada dia mais no meio odontológico, por terem propriedade antibacteriana, induzirem a biomineralização, a cementogênese na região apical e apresentarem ótimos resultados quando utilizados em ambientes úmidos (Abusrewil et al., 2018). Sendo assim, o objetivo deste caso clínico é relatar tratamento de apicificação do dente 35 utilizando medicação intracanal e cimentos reparador e obturador biocerâmicos.

Relato de caso

Paciente sexo feminino, 12 anos, compareceu ao Hospital Odontológico da Universidade Federal de Uberlândia (HO/UFU) com relato de dor espontânea, difusa, intermitente, de longa duração. Exacerbada por mastigação, estímulos frios e quentes. O dente 35 apresentava abertura coronária realizada em consultório particular (6 meses antes), ausência de resposta ao teste térmico frio e sensibilidade a percussão vertical e horizontal. Radiograficamente, observou-se que abertura coronária insatisfatória, espessamento do ligamento periodontal, lesão periapical difusa e presença de ápice aberto (Figura 1A).

Figura 1. Aspectos radiográfico (A)
Figura 1. Aspecto clínico após remoção de restauração provisória e refinamento da abertura coronária (B)

Durante a primeira consulta, foi feita a remoção do material provisório com broca esférica diamantada #1014 (FAVA, Pirituba, SP, Brasil) e refinamento da abertura coronária com broca multilaminada de ponta inativa (Endo Z, Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A, Londrina, Brasil) (Figura 1B). Seguiu-se com a instrumentação dos terços cervical e médio, com limas tipo Headstron #15, #20 e #25 e brocas Gates Glidden #2 e #3 (Maillefer, Dentsply, Tulsa, Oklahoma, EUA), odontometria radiográfica e instrumentação apical com limas Kerr (Maillefer, Dentsply, Tulsa, Oklahoma, EUA) até a lima #80. Entre cada limagem realizada, foi feita irrigação intracanal com hipoclorito de sódio a 1% e irrigação final com soro fisiológico. Após secagem do conduto radicular, utilizou-se hidróxido de cálcio (Biodinâmica Química e Farmacêutica LTDA, Ibiporã, Paraná, Brasil) associado a soro fisiológico como medicação intracanal. O selamento provisório foi feito com bolinha de algodão, cimento provisório pronto (VilleVie, Joinville, Santa Catarina, Brasil) e restaurador provisório IRM (Maillefer, Dentsply).

Após um mês, a paciente retornou para troca de medicação e foi observado pouca alteração no aspecto da lesão periapical. Optou-se então por utilizar medicação intracanal biocerâmica (BIO C TEMP, Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A) (Figura 2A). Sua inserção foi feita com a ponta própria do produto posicionada 2,0 mm aquém do comprimento de trabalho (CRT) e limagem com lima K15 (Maillefer, Dentsply), com intuito de levar a medicação até o final do CRT e remover eventuais bolhas. Duas trocas de medicação foram realizadas, com intervalo de 2 meses entre ambas (Figura 2). Durante a remoção da medicação na segunda troca, foi possível sentir a formação de tecido mineralizado na região apical com auxílio de uma lima 35 na região e regressão da lesão periapical.

Figura 2. Medicação intracanal biocerâmica (A)
Figura 2. Aspecto radiográfico no interior do canal radicular após a primeira troca (B)
Figura 2. Aspecto radiográfico no interior do canal radicular após a segunda troca (C)

Quatro meses após o início do tratamento e 30 dias após a última troca de medicação, realizou-se a obturação do canal radicular. A remoção da medicação biocerâmica foi feita em todas as sessões através de irrigação com hipoclorito de sódio 1% e com auxílio de limas tipo Kerr (Maillefer, Dentsply). Também foi utilizado o EDTA (Biodinâmica Química e Farmacêutica Ltda) colocado nos canais com auxílio de uma pinça clínica e agitado durante 30 segundos por meio de ponta de ultrassom E1 Irrisonic (Helse Dental Tecnology, Santa Rosa de Viterbo – SP). Após irrigação final e secagem do canal, foi confeccionado um plug com cimento reparador biocerâmico (BIO C REPAIR – Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A) nos últimos 2,0 mm apicais do canal radicular, inserido com condensadores (Odous de Deus, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil) (Figura 3).

Figura 3. Cimento reparador biocerâmico (A)
Figura 3. Aspecto do material (B)
Figura 3. Inserção do cimento reparador no canal radicular (C)

Com o selamento apical bem posicionado, a obturação, pela técnica de condensação vertical e lateral, foi realizada com cimento obturador biocerâmico (BIO C SEALER, Angelus Indústria de Produtos Odontológicos S/A), inserido no canal radicular com ponta própria posicionada 3,0 mm aquém do plug, e cones de guta percha (Odous de Deus, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil) (Figura 4).

Figura 4. Cimento obturador biocerâmico (A)
Figura 4. inserção do cimento no canal radicular (B)
Figura 4. Inserção dos cones de guta percha (C)

A paciente não relatou em nenhum momento presença de sintomatologia dolorosa ao longo dos meses de tratamento. Na sessão de proservação, 6 meses após a obturação do canal radicular, o dente não apresentou sensibilidade aos testes de percussão e radiograficamente, observou-se regressão da lesão periapical e formação de tecido na região apical do dente (Figura 5).

 

Figura 5. Aspecto radiográfico: após a obturação (A)
Figura 5. Aspecto radiográfico após 6 meses de proservação (B)

Conclusão

A utilização dos materiais biocerâmicos em um caso de apicifcação foi efetiva no processo de recuperação e neoformação dos tecidos periapicais.

Referências

  1. Guerrero F, Mendoza A, Ribas D, Aspiazu K. Apexification: A systematic review. J Conserv Dent 2018;21(5):462-465.

  2. Agrafioti A, Giannakoulas DG, Filippatos CG, Kontakiotis EG. Analysis of clinical studies related to apexification techniques. Eur J Paediatr Dent 2017;18(4):273-284.

  3. Abusrewil SM, McLean W, Scott JA. The use of Bioceramics as root-end filling materials in periradicular surgery: A literature review. Saudi Dent J 2018;30:273–282.

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