Lesão endoperio: como tratar?

O diagnóstico e o tratamento da lesão endoperio pode ser desafiador para um cirurgião-dentista. Pensando nisso, confira este texto!

Angelus

6 min. de leitura

-

21 de outubro de 2022

Compartilhe:

Algumas doenças bucais representam um grande desafio para o diagnóstico e o tratamento clínico, que é o caso da lesão endoperiodontal. Essa doença infecciosa acomete simultaneamente os tecidos endodônticos e periodontais de um mesmo dente.

Para nos aprofundarmos mais neste assunto, convidamos o Prof. Jean Marcello Pagotto, cirurgião-dentista e mestre em Periodontia, para que possamos entender o que é, quais são as causas, como diagnosticar e como tratar essa doença. Boa leitura!

O que é a lesão endoperio?

A lesão endoperiodontal, também conhecida como endoperio, é definida a partir de uma relação patológica entre os tecidos endodôntico e periodontal de um dente específico. São caracterizadas como doenças infecciosas que levam a danos extensos no tecido periodontal, além de estarem relacionadas a inflamação e necrose pulpar.

“Essas lesões existem simultaneamente nos tecidos periodontais e endodônticos do mesmo dente. As lesões também podem induzir a destruição tecidual lateral nas raízes e nas regiões de ramificação em dentes bi e trirradiculares”, explica Pagotto.

Quais são as causas da lesão endoperiodontal?

A patogenia e a causa das lesões endoperiodontais são de origem infecciosa, e no sítio infectado há semelhanças entre a flora bacteriana endodôntica e a flora das bolsas periodontais, o que sugere que as infecções cruzadas são possíveis de ocorrer nesse caso.

“Estudos bacteriológicos relataram semelhanças na quantidade e na estrutura da flora bacteriana associadas a lesões endodônticas e periodontais. Esses achados explicam a comunicação entre os tecidos periodontal e endodôntico”, afirma o especialista.

Como as vias anatômicas e não anatômicas levam à lesão endoperio?

Para o diagnóstico e o tratamento da lesão endoperio, é importante conhecer os diferentes tipos de vias que podem levar ao aparecimento dessa doença oral. Veja abaixo as duas vias que podem ocasionar o seu surgimento:

  • Vias anatômicas: que conectam os tecidos endodônticos e periodontais, como os forames apicais, os ramos do sistema de canais radiculares acessórios e os túbulos dentinários;
  • Vias não anatômicas: vias não fisiológicas, que podem ser criadas por perfurações iatrogênicas, fraturas radiculares verticais, reabsorções radiculares e lesões dentárias traumáticas.

Como diagnosticar a lesão endoperio?

A lesão endoperio pode ser diagnosticada pelo cirurgião-dentista por meio desses procedimentos:

  • Exame clínico para investigar se há presença de fístula;
  • Teste de mobilidade dental para verificar se a mobilidade é patológica;
  • Sondagem periodontal para avaliar se há presença de cálculo dental e/ou bolsa periodontal no local;
  • Teste de vitalidade pulpar a fim de certificar a vitalidade ou a necrose do elemento dentário;
  • Exame radiográfico;
  • Exame tomográfico.

Após a avaliação desses parâmetros, o profissional muitas vezes conseguirá identificar se a lesão endoperiodontal é de origem endodôntica, ou de origem periodontal ou, ainda, de origem combinada (endodôntica e periodontal).

Qual é a principal técnica de tratamento para a lesão endoperio?

Pagotto assegura que não há consenso na literatura sobre qual técnica é melhor ou superior a outra. De acordo com o especialista, a escolha do tratamento ideal depende de vários fatores, como a origem da lesão endoperiodontal, a quantidade de tecido destruído e a saúde do paciente, para elaborar a melhor forma de intervenção no local.

Afinal, como tratar a lesão endoperiodontal?

Primeiramente o cirurgião dentista deve identificar qual é a origem da lesão por meio de exames e testes clínicos. A partir da conclusão do diagnóstico, o dentista deverá escolher pelo tratamento que pode ser: periodontal, endodôntico ou combinado.

Para lesão endoperio de origem periodontal, em que se tem vitalidade pulpar, o tratamento periodontal é o mais indicado e não é recomendado fazer a endodontia do elemento, pois ele apresenta vitalidade pulpar.

Para a lesão endoperio de origem endodôntica que o elemento apresente necrose pulpar deve-se fazer o tratamento endodôntico primeiro e, em seguida, realizar o tratamento periodontal, podendo ser uma simples raspagem, raspagem de campo aberto ou, até mesmo, uma regeneração tecidual guiada.

Por fim, em caso de lesão endoperiodontal de origem periodontal e endodôntica (combinadas ou verdadeiras), o elemento dental apresenta necrose pulpar, deve ser feito o tratamento endodôntico do elemento primeiramente e, depois, fazer o tratamento periodontal, que no caso de lesão endoperiodontal combinada, pode ser a terapia periodontal básica associada a procedimentos cirúrgicos mais complexos, como a regeneração óssea guiada com o uso de membranas ou barreiras, e dependendo da quantidade da destruição tecidual a exodontia do elemento pode ser indicada.

Quando é indicado o tratamento cirúrgico para a lesão endoperiodontal?

“Dependendo do prognóstico e da quantidade de destruição tecidual, poderá ser indicado o tratamento cirúrgico”, afirma Pagotto. O cirurgião-dentista explica que, geralmente, em casos com grande perda de tecido, o tratamento cirúrgico tende a ser mais indicado, como por exemplo a raspagem periodontal a campo aberto e a regeneração tecidual guiada, a depender do quadro clínico.

Qual é o prognóstico dos dentes acometidos pela lesão endoperiodontal?

O prognóstico dos dentes acometidos pela lesão endoperiodontal pode ser bom, duvidoso ou até ruim. Sendo assim, para determinar o prognóstico dos elementos dentais com lesão endoperio deve-se considerar os seguintes fatores:

  • Quantidade de perda tecidual do elemento dentário;
  • Presença de doença periodontal em outros elementos, devendo o profissional investigar se há grandes perdas de inserção clínica em outros elementos dentários;
  • Saúde do paciente, sendo importante avaliar se há problemas sistêmicos, como diabetes, hipertensão, osteoporose, etc;
  • Hábito de tabagismo/alcoolismo;
  • Presença de hábitos parafuncionais, como o bruxismo.

No entanto, Pagotto afirma que o diagnóstico e o tratamento adequados das lesões endoperiodontais são um desafio para os clínicos. Isso explica por que é difícil para os cirurgiões dentistas preverem o prognóstico dessa complexa doença.

Neste conteúdo, você teve acesso a dicas sobre como realizar um bom diagnóstico e optar por um tratamento mais adequado quando o assunto é lesão endoperiodontal. Leia também a entrevista com o especialista Luiz Felipe sobre abscesso extraoral.

4 comentários

Deixe um comentário